Quando o Patriarca Ip Man imigrou-se para Hong Kong, em 1949, o cenário social da então ilha britânica refletia ao caos da China continental. Para o grande mestre, restou iniciar a transmissão do Sistema Ving Tsun de maneira precária, sem mesmo um local apropriado, chamado de Mo Gun (tradicional recinto reservado à transmissão marcial).
Pouco a pouco, com a consolidação do Ving Tsun (Wing Chun) em Hong Kong, foi possibilitado à Ip Man maior sofisticação, inserindo costumes, tradições e adereços ao seu Si Mun (Família Kung Fu). São heranças da larga história das artes marciais em Foshan (Fat Shaan) e até mesmo remotos artigos e costumes do monastério Shaolin (Siu Lam). Talvez a mais emblemática dessas inserções seja o Jiu Paai.
O Jiu Paai da Hong Kong Ving Tsun A. Association, de 1968. |
Jiu Paai pode ser traduzido como "placa chamativa". Tal tradição foi criada há séculos na China, para indicar um estabelecimento e a família do referido "dono" daquele local. Esse estandarte chinês de madeira passou também a significar no Mo Lam (círculo marcial) a "energia viva" daqueles que trabalham ou frequentam um Mo Gun. Por esse motivo, o Jiu Paai sempre é colocado à vista de todos, bem na porta principal do estabelecimento ou na parede frontal à entrada. Ele deve sempre ser salvaguardado, pela honra da família.
Grão-Mestre Moy Yat é reconhecido, há muito, como o braço direito do Patriarca Ip Man, em Hong Kong. Quando ele consagrou-se um "Si Fu" da arte, em 1962, logo teve a preocupação de providenciar um Jiu Paai próprio, sob autorização de Ip Man, que indicasse sua condição de herdeiro do Ving Tsun e iniciador de uma nova geração familiar. Foi esse desejo de Moy Yat que gerou a aproximação dele a um grande artista chinês, Kwong Chi Nam, autor do primeiro Jiu Paai da história da Família Moy Yat.
O primeiro e precioso Jiu Paai de Grão-Mestre Moy Yat acompanha a Família Moy até os dias de hoje, estando ele de posse de seu filho e herdeiro, Mestre Sênior William Moy.
O Jiu Paai de Grão-Mestre Moy Yat: de Hong Kong para New York City. |
Em determinada época, na década de 80, Grão-Mestre Moy Yat teve um sonho, onde ele havia outorgado dez placas entre os seus mais próximos discípulos. Logo, o sonho tornou-se uma realidade e, em 1989, houve a primeira entrega de placas chinesas aos descendentes da Família Moy Yat.
Grão-Mestre Moy Yat e suas primeiras dez placas, produzidas em 1989. |
Moy Yat disponibilizou o seu conhecimento e incumbiu o seu discípulo brasileiro, Leo Imamura, para confeccionar as placas, enquanto este último vivia na cidade de New York. Felizmente, o Mestre Leo Imamura, ao final do extenso e meticuloso trabalho, teve a honra de receber a placa de número 8 das mâos do Grão-Mestre. Ela hoje encontra-se na Casa dos Discípulos do Clã Moy Yat Sang, em São Paulo.
Grão-Mestre Moy Yat, em New York, orientando seu discípulo Leo Imamura. |
O primeiro Jiu Paai produzido no Brasil, na foto inacabado, por Leandro Godoy. |
Em mais uma "passagem de bastão", Mestre Leandro Godoy incumbiu seu discípulo argentino, Luis Gonzalez, a produzir mais placas, todas elas a pedido do Mestre Leo Imamura, que as outorgaram em diferentes ocasiões: duas cerimônias em São Paulo e duas no Rio de Janeiro, ocorridas entre 2009 e 2011.
Placa recebida pelo Mestre Celso Grande, confeccionada por Luis Gonzalez. |
O valoroso labor desses supracitados, desde o artista chinês Kwon Chi Nam, passando por Grão-Mestre Moy Yat, Mestre Sênior Leo Imamura, Mestre Leandro Godoy e, por fim, Luis Gonzalez, despertou o interesse de um membro da Família Moy Yat Sang de Belo Horizonte: Rodrigo Giarola, tutor sênior do Núcleo Belo Horizonte, voluntariou-se a produzir as placas, a partir de 2012, herdando o conhecimento, de entalhe e feitura, da Família Moy. Rodrigo ainda recebeu preciosos conselhos do Mestre Leonardo Mordente, que mantém estreito contato com Kwong Chi Nam, este ainda vivendo em Hong Kong.
Rodrigo Giarola, o atual artesão de Jiu Paai da Família Moy Yat Sang. |
A primeira outorga de Jiu Paai ocorrida em Belo Horizonte, para Leonardo Mordente. |
1. Mestre Renato Almeida, de Miami EUA (mar, 2003), por Leandro Godoy.
2. Mestre Anderson Maia, de Belo Horizonte BR (mar, 2003), por Leandro Godoy.
3. Mestre Nataniel Rosa, de Brasília BR (mar, 2003), por Leandro Godoy.
4. Mestre Julio Camacho, do Rio de Janeiro BR (mar, 2003), por Leandro Godoy.
5. Mestre Leandro Godoy, de Buenos Aires ARG (jul, 2003), por Leandro Godoy.
6. Mestre Fabio Gomes, do Rio de Janeiro BR (jul, 2003), por Leandro Godoy.
7. Mestre Fabio Matsushita, de São Paulo BR (mar, 2007), por Leandro Godoy.
8. Mestre Washington Fonseca, de São Paulo BR (mar, 2007), por Leandro Godoy.
9. Mestre Celso Grande, de São Roque BR (dez, 2009), por Luis Gonzalez.
10. Mestre Walter Correia, de São Paulo BR (fev, 2010), por Luis Gonzalez.
11. Mestra Úrsula Lima, do Rio de Janeiro BR (out, 2010), por Luis Gonzalez.
12. Mestre Felipe Soares, do Rio de Janeiro BR (ago, 2012), por Rodrigo Giarola.
13. Mestre Marcelo Navarro, de Madri ESP (nov, 2012), por Rodrigo Giarola.
14. Mestre Ricardo Queiroz, do Rio de Janeiro BR (ago, 2013), por Rodrigo Giarola.
15. Mestre Leonardo Mordente, de Belo Horizonte BR (set, 2013), por Rodrigo Giarola.
16. Mestre Domênico Venturelli, do Rio de Janeiro BR (fev, 2014), por Rodrigo Giarola.