quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Jiu Paai - A Placa Chinesa

Quando o Patriarca Ip Man imigrou-se para Hong Kong, em 1949, o cenário social da então ilha britânica refletia ao caos da China continental. Para o grande mestre, restou iniciar a transmissão do Sistema Ving Tsun de maneira precária, sem mesmo um local apropriado, chamado de Mo Gun (tradicional recinto reservado à transmissão marcial).

Pouco a pouco, com a consolidação do Ving Tsun (Wing Chun) em Hong Kong, foi possibilitado à Ip Man maior sofisticação, inserindo costumes, tradições e adereços ao seu Si Mun (Família Kung Fu). São heranças da larga história das artes marciais em Foshan (Fat Shaan) e até mesmo remotos artigos e costumes do monastério Shaolin (Siu Lam). Talvez a mais emblemática dessas inserções seja o Jiu Paai.
O Jiu Paai da Hong Kong Ving Tsun A. Association, de 1968.
Jiu Paai pode ser traduzido como "placa chamativa". Tal tradição foi criada há séculos na China, para indicar um estabelecimento e a família do referido "dono" daquele local. Esse estandarte chinês de madeira passou também a significar no Mo Lam (círculo marcial) a "energia viva" daqueles que trabalham ou frequentam um Mo Gun. Por esse motivo, o Jiu Paai sempre é colocado à vista de todos, bem na porta principal do estabelecimento ou na parede frontal à entrada. Ele deve sempre ser salvaguardado, pela honra da família.

Grão-Mestre Moy Yat é reconhecido, há muito, como o braço direito do Patriarca Ip Man, em Hong Kong. Quando ele consagrou-se um "Si Fu" da arte, em 1962, logo teve a preocupação de providenciar um Jiu Paai próprio, sob autorização de Ip Man, que indicasse sua condição de herdeiro do Ving Tsun e iniciador de uma nova geração familiar. Foi esse desejo de Moy Yat que gerou a aproximação dele a um grande artista chinês, Kwong Chi Nam, autor do primeiro Jiu Paai da história da Família Moy Yat.

O primeiro e precioso Jiu Paai de Grão-Mestre Moy Yat acompanha a Família Moy até os dias de hoje, estando ele de posse de seu filho e herdeiro, Mestre Sênior William Moy.
O Jiu Paai de Grão-Mestre Moy Yat: de Hong Kong para New York City.
Em determinada época, na década de 80, Grão-Mestre Moy Yat teve um sonho, onde ele havia outorgado dez placas entre os seus mais próximos discípulos. Logo, o sonho tornou-se uma realidade e, em 1989, houve a primeira entrega de placas chinesas aos descendentes da Família Moy Yat. 
Grão-Mestre Moy Yat e suas primeiras dez placas, produzidas em 1989.
Moy Yat disponibilizou o seu conhecimento e incumbiu o seu discípulo brasileiro, Leo Imamura, para confeccionar as placas, enquanto este último vivia na cidade de New York. Felizmente, o Mestre Leo Imamura, ao final do extenso e meticuloso trabalho, teve a honra de receber a placa de número 8 das mâos do Grão-Mestre. Ela hoje encontra-se na Casa dos Discípulos do Clã Moy Yat Sang, em São Paulo.
Grão-Mestre Moy Yat, em New York, orientando seu discípulo Leo Imamura.
A história do Jiu Paai da linhagem Moy no Brasil inicia-se somente em 2003, quinze anos após a introdução da denominação MYVT no país. Repetindo a história da placa antecessora, o Mestre Leo Imamura incumbiu seu discípulo, Leandro Godoy, para confeccionar as cinco primeiras placas da Família Moy Yat Sang. No mesmo ano, 2003, Godoy ainda produziu ainda mais duas. As cerimônias de outorga ocorreram em São Paulo. Sua colaboração quanto aos Jiu Paai se encerrou, ao menos por hora, quando mudou-se para a Argentina. Lá, Leandro Godoy produziu mais duas placas, em outorga do Mestre Leo Imamura para mais dois discípulos, em cerimônia na capital portenha, Buenos Aires, no ano de 2007.
O primeiro Jiu Paai produzido no Brasil, na foto inacabado, por Leandro Godoy.
Em mais uma "passagem de bastão", Mestre Leandro Godoy incumbiu seu discípulo argentino, Luis Gonzalez, a produzir mais placas, todas elas a pedido do Mestre Leo Imamura, que as outorgaram em diferentes ocasiões: duas cerimônias em São Paulo e duas no Rio de Janeiro, ocorridas entre 2009 e 2011.
Placa recebida pelo Mestre Celso Grande, confeccionada por Luis Gonzalez.
O valoroso labor desses supracitados, desde o artista chinês Kwon Chi Nam, passando por Grão-Mestre Moy Yat, Mestre Sênior Leo Imamura, Mestre Leandro Godoy e, por fim, Luis Gonzalez, despertou o interesse de um membro da Família Moy Yat Sang de Belo Horizonte: Rodrigo Giarola, tutor sênior do Núcleo Belo Horizonte, voluntariou-se a produzir as placas, a partir de 2012, herdando o conhecimento, de entalhe e feitura, da Família Moy. Rodrigo ainda recebeu preciosos conselhos do Mestre Leonardo Mordente, que mantém estreito contato com Kwong Chi Nam, este ainda vivendo em Hong Kong.
Rodrigo Giarola, o atual artesão de  Jiu Paai da Família Moy Yat Sang.
De 2012 até hoje, cinco placas foram produzidas por Rodrigo Giarola. Três delas estão com discípulos da Família Moy Yat Sang do Rio de Janeiro, outra encontra-se na escola Moy Yat Ving Tsun da Espanha, em Madri, e mais uma outra, em Belo Horizonte, outorgada pelo Mestre Leo Imamura na primeira cerimônia ocorrida no estado de Minas Gerais.
A primeira outorga de Jiu Paai ocorrida em Belo Horizonte, para Leonardo Mordente.
Placas do Clã Moy Yat Sang reconhecidas atualmente pela MYVTMI (por ordem outorgada):
1. Mestre Renato Almeida, de Miami EUA (mar, 2003), por Leandro Godoy.
2. Mestre Anderson Maia, de Belo Horizonte BR (mar, 2003), por Leandro Godoy.
3. Mestre Nataniel Rosa, de Brasília BR (mar, 2003), por Leandro Godoy.
4. Mestre Julio Camacho, do Rio de Janeiro BR (mar, 2003), por Leandro Godoy.
5. Mestre Leandro Godoy, de Buenos Aires ARG (jul, 2003), por Leandro Godoy.
6. Mestre Fabio Gomes, do Rio de Janeiro BR (jul, 2003), por Leandro Godoy.
7. Mestre Fabio Matsushita, de São Paulo BR (mar, 2007), por Leandro Godoy.
8. Mestre Washington Fonseca, de São Paulo BR (mar, 2007), por Leandro Godoy.
9. Mestre Celso Grande, de São Roque BR (dez, 2009), por Luis Gonzalez.
10. Mestre Walter Correia, de São Paulo BR (fev, 2010), por Luis Gonzalez.
11. Mestra Úrsula Lima, do Rio de Janeiro BR (out, 2010), por Luis Gonzalez.
12. Mestre Felipe Soares, do Rio de Janeiro BR (ago, 2012), por Rodrigo Giarola.
13. Mestre Marcelo Navarro, de Madri ESP (nov, 2012), por Rodrigo Giarola.
14. Mestre Ricardo Queiroz, do Rio de Janeiro BR (ago, 2013), por Rodrigo Giarola.
15. Mestre Leonardo Mordente, de Belo Horizonte BR (set, 2013), por Rodrigo Giarola.
16. Mestre Domênico Venturelli, do Rio de Janeiro BR (fev, 2014), por Rodrigo Giarola.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Jantar e Cerimônia da Família Moy On Da San

Ocorreu em Belo Horizonte a XI Cerimônia Tradicional da Família Moy On Da San e o Jantar de Celebração do Ano Novo Chinês do Cavalo. O evento reuniu mais de oitenta membros no restaurante Yun Ton, no bairro Lourdes da capital mineira.
Mestre Anderson Maia, ao fundo, com as testemunhas formais e a mesa cerimonial.
A Família Moy On Da San, liderada pelo Mestre Anderson Maia, representa, desde março de 2003, a 12a. geração do Ving Tsun de Minas Gerais, integrado ao Clã Moy Yat Sang, este sob liderança do Mestre Sênior Leo Imamura.

A décima-primeira edição da cerimônia serviu para anunciar e coroar o processo de admissão (hoi kuen) e de passagem de nível que ocorreram no Núcleo Belo Horizonte, ao longo do ano anterior - 2013. Dessa forma, o líder da família kung fu, Si Fu Anderson Maia, lavra uma ata oficial, listando todos esses membros, admitidos e promovidos, firmada e testemunhada formalmente também pelos membros vitalícios ativos da Moy Yat Ving Tsun de Minas Gerais.
O tradicional Hoi Kuen - a abertura marcial - dos novos membros da família kung fu.
Associar a festa do ano novo chinês (san nin) à uma cerimônia tradicional da família kung fu (si mun din lai) torna-se mais auspicioso o momento para todos os envolvidos.


No jantar, foram servidos oito pratos* (vide abaixo) que simbolizam às boas-vindas ao novo animal regente no ano chinês - 2014 será o ano do cavalo. Confraternização e harmonia marcaram o evento, que tornou-se já um marco no calendário da Moy Yat Ving Tsun, em Minas Gerais.

*O 8, em chinês "baat", é palavra de mesmo som da palavra fortuna. Por isso, ele está ligado à sorte para os chineses. No banquete, uma família chinesa costuma servir de entradas rolinhos primavera e típicos pastéis. O primeiro foi inventado justamente para homenagear a chegada da primavera, a estação vigente na China. Nos pastéis, coloca-se uma moeda dentro de um, numa porção. Aquele que encontrar a moeda do prato, terá sorte durante o ano. 
b
Rolinho Primavera: o nome indica a chegada do ano novo e a nova estação.
Os pratos principais são sempre servidos em duplas, um "yin", outro "yang", para dar o bom equilíbrio e harmonia. Costuma-se servir um peixe inteiro combinado com macarrão, legumes e tofu. O peixe, pronuncia-se "yu", é palavra homófona de saúde. Serve-se inteiro, para tudo ter início, meio e fim. Os fios do macarrão sugerem vida longa, ao serem provados. Os legumes são servidos com cauda, que lembram a barba dos sábios, para dar sabedoria às pessoas. O "tofu" - queijo de soja, é o alimento básico dos monges, aspirando a paz para todos os dias. 
Fios do macarrão: vida longa. Peixe inteiro: saúde durante todo o ano.
Numa outra combinação, têm-se, por exemplo, o arroz chinês harmonizado com porco ao molho de gengibre. O arroz deve ser servido em forma de monte, para que todos subam na vida. O porco é o animal da riqueza e fartura. Não se pode deixar de comê-lo no ano novo. O molho de gengibre está ligado às fontes medicinais, pedindo boa saúde para todos. Por fim, come-se um prato nobre e raro, como por exemplo, escorpiões ou cobras najas. Para dar o perfeito equilíbrio, tal nobreza é combinada à um pedido rotineiro do povo, como o pão branco. Os doces fecham o banquete, no sentido de "toda a amargura" seja deixada. Tudo muito pensado, meticulosamente preparado, com grande simbolismo, para que não seja apenas um simples alimento.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

I Reunião de Mestres do Ano do Cavalo - SP

Um dia após o jantar* e a cerimônia, dia 8/2, que celebraram a chegada do ano chinês do cavalo e a titulação de mestre de Domênico Venturelli (Moy Doh Ming), a MYVTMI - representanda por seu Conselho de Mestres - se reuniu em São Paulo para atualização do Programa MYVT de Inteligência Marcial, conjunto de instrumentalização estratégica do Clã Moy Yat Sang, que orienta e agrega os líderes de família e os núcleos certificados da entidade.
Mestre Leo Imamura e membros do Conselho de Mestres da MYVTMI.
A versão 2014 do referido Programa foi apresentado pelo líder da MYVTMI, Mestre Sênior Leo Imamura, aos participantes da reunião, que durou doze horas do domingo. Foram os seguintes participantes: Mestre Anderson Maia, Mestre Nataniel Rosa, Mestre Júlio Camacho, Mestre Ricardo Queiroz, Mestre Fabio Gomes, Mestra Úrsula Lima, Mestre Washington Fonseca, Mestre Domênico Venturelli, Mestre Felipe Soares e Mestre Celso Grande, além dos mestrandos Rafael Castro, Maria Cristina Azevedo e Paul Liu. Desde já, os membros da MYVTMI poderão usufruir das atualizações proposta na reunião.

Uma nova reunião do Conselho de Mestres, de continuidade dessa, foi marcada para o dia 23 de março, quando o Clã se reunirá em São Roque - SP, para celebrar o 51o. aniversário do Mestre Leo Imamura.
Mestre Moy Doh Ming, laudeado por seus mentores no Kung Fu e sua esposa.
O Núcleo Belo Horizonte aproveita o auspicioso momento para parabenizar o novo mestre qualificado, Domênico Venturelli, antigo membro do Rio de Janeiro, que colheu os frutos de seu grande trabalho, iniciados em 1998, como discípulo de Si Fu Moy Yat Sang. Ele ocupará a 17a. cadeira do Conselho de Mestres da MYVTMI.

*Em Belo Horizonte, o jantar de celebração da chegada do ano do cavalo se dará no dia 13 de fevereiro, último dia do popular "festival da primavera" na China.