terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Filme Ip Man em nova super produção

O cartaz da estréia na China, em 08/01/13.








"NAS ARTES MARCIAIS, NÃO HÁ CERTO OU ERRADO, APENAS O ÚLTIMO HOMEM DE PÉ"










A frase acima é um antigo ditado do círculo marcial chinês. Ela foi escolhida para compor o nome do mais novo filme sobre o patriarca Ip Man do Ving Tsun: "The Grandmasters" (em chinês 一代宗師).

O referido dito serve perfeitamente para atrair o público interessado em ver um grande filme de ação. No entanto, antes de referir-me exatamente ao filme em si, permitam-me uma visão mais ampla destes dizeres. 

O círculo marcial (mo lam) na China se desenvolveu paralelamente à sociedade formal. Com uma tradição milenar, que remonta mais de dois mil anos, foi a partir do século XVII que os artistas marciais chineses formaram seletas ramificações. São estas as chamadas 'tríades' que até hoje permanecem preservadas, de uma forma ou de outra, expandindo-se por todo o mundo.

O que difere a sociedade formal ao círculo marcial são as regras. 

Na primeira, elas tendem a ser claras e bem estabelecidas, por meio de hábitos, leis, códigos de conduta, dentre outras normas, onde a sociedade, baseado no que já esta formalizado, percebe o que esta dentro destas regras ou fora delas, ou seja, aquilo que é certo e errado.

No círculo marcial, os praticantes de Kung Fu, desde cedo, aprendem a lidar com o inesperado. Nesta sociedade "não-formal", o que prevalece é a percepção das coisas, como uma situação evolue e como a pessoa se adapta às circunstâncias. Reside aí a essência das artes marciais, que é a relação movimento e não-movimento. Agir e o não-agir. Não há, portanto, certo ou errado. Os chineses chamam isto de "Tao", a mutação, o saber se apoiar no fluxo das coisas. 

O correto hoje pode ser o errado amanhã. E vice-versa. Prevalece assim àquele que melhor sustenta a sua posição. Então, referindo-se ao subtítulo do filme, o verdadeiro artista marcial não se prende à vitória e nem à derrota. Ele sabe quão efêmero e fugaz são tais condições. O círculo marcial ensina as pessoas a se "manterem de pé", independente das vantagens ou desvantagens, seja qual for a situação.

É fácil estar bem quando em vantagem. É normal se sentir fragilizado quando algo vai contra os nossos sentimentos. Tomar partido quando todo o envolto favorece e abrir mão das coisas quando nada nos agrada. No círculo marcial, as relações e suas inter-conexões são que ditam os efeitos dos fatos. Em suma, é saber viver a vida. 

Ip Man, nesta nova saga, torna-se o líder do círculo marcial chinês.
O novo filme, do premiado diretor Wong Kar Wai, remonta o cenário marcial da cidade de Foshan, nas primeiras décadas do século passado. Foshan foi o berço do Ving Tsun e de muitas tradicionais outras linhagens do Kung Fu. É a cidade meca das artes marciais chinesas.

A trama se desenvolve centrada no patriarca Ip Man, quando este é um reconhecido artista marcial e muito respeitado pelo sobrenome familiar. Mestre Ip é levado, sem os critérios formais, à condição de Jung Si, o líder maior do círculo marcial. Isto provoca e eleva as emoções de muitos, que gostariam de gozar do mesmo prestígio.

Diferente dos primeiros filmes sobre Ip Man - Ip Man 1, 2008; Ip Man 2, 2009 e Ip Man, The Legend is Born, 2010 - a nova saga do grande mestre foge do velho clichê de filmes de artes marciais produzidos em Hong Kong. O aclamado diretor, Wong Kar Wai, jamais produziu um filme puramente deste gênero e sua filmografia é bastante eclética.

De toda forma, cabe a nós, artistas marciais, termos ciência que trata-se de um filme de ação, que busca bilheteria mundial, acima de tudo. Saber apreciar as pormenores supracitadas, fazerá nos sentir bem próximos deste paradoxal círculo marcial.

Anderson Maia (Moy On Da San), discípulo de Leo Imamura (Moy Yat Sang).

Assista ao trailer:

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